Qual é a treta ?

Amigos, eu e a vida online fizemos 11 anos de casamento. Uma das coisas que aprendi com este relacionamento relativamente saudável é que funciono melhor se tarefas semelhantes estiverem agrupadas na agenda.

Consigo me manter mais perpicaz, aquela sensação de torpor, de sentir os olhos pesados e o corpo meio que derretendo na cadeira (quem nunca?), surge com menos frequência. Só vantagens: eu me desgasto menos e o cidadão do outro lado conta com uma versão mais afiada de mim. Poucos detalhes passam batido, está funcionando bem.

Na quarta-feira passada tive um desses dias em que atendo os alunos em vídeo, em sessões de uma hora. Comecei a segunda sessão da tarde, motivado, e a conversa caminhou super bem.

Passados 45 minutos de papo já tínhamos resolvido as principais dúvidas e ele havia conseguido construir uma ótima carteira de investimentos. Eram 250 mil reais distribuidos em 3 ativos: 120 mil em um título pós-fixado, 100 mil em um título atrelado a inflação isento de imposto, com vencimento para 2027, e 30 mil alocados em um ótimo fundo de renda variável internacional (o WRLD11).

Desviei o olhar da planilha e dei uma conferida no semblante do rapaz. Parecia confuso. Que curioso, pensei, eu estava realmente atento, tinha certeza que ele estava acompanhando o raciocínio... em qual ponto será que ele se perdeu? Resolvi perguntar.

Eu: "Ficou tudo claro, Rafa? Tá com uma cara de dúvida aí...”

Rafa: "Ficou tudo mais que claro, entendi 100% a divisão nos 3 ativos e a história do prazo de usufruto, a lógica dos baldinhos, tudo compreendido!”

Eu: "Mas...?”

Rafa: "Mas tô tentando entender qual é a treta?”

Eu: "A treta?”

Rafa: "É. Não é possível que vamos resolver minha carteira inteira com 3 ativos”

Eu entendo o espanto do Rafa, ele se apoia em dois pilares:

#1 – Somos constantemente bombardeados por agentes que pintam o problema para vender a solução. Por consequência, quanto mais complexo o problema apresentado, mais espaço para a venda da solução.

#2 – Ainda vivemos em um tempo de exaltação do trabalho duro. Se não foi realmente difícil, se não arrancou suor e sangue, não está bom o suficiente.

O Rafa precisava contar com uma boa reserva de emergência. É arrimo de família e o vínculo que mantém com seu empregador é frágil – uma camada líquida mais gordinha, composta por um título pós-fixado, faz todo o sentido.

Além disso, pretende mudar de cidade em 5 anos e gostaria de comprar um pequeno terreno no interior do seu estado, para construir. Não faz sentido correr grandes riscos para um prazo curto (5 anos é um prazo relativamente curto no mundo dos investimentos, amigos) – o título atrelado a inflação funciona muitíssimo bem para esse objetivo e garante rentabilidade real.

O restante do dinheiro poupado (bem como os próximos aportes) terão por objetivo uma reserva de longo prazo e a renda variável funciona bem para esse fim. O Rafa já havia percebido que a compra direta de ações não era pra ele – ele foi um bom aluno e assistiu as aulas antes da nossa reunião. Portanto, o WRLD11 (barato e estruturado em moeda forte) fez sentido.

É óbvio que, em muitas ocasiões, são necessários, sim, de períodos longuíssimos de estudo, de suor, jornadas árduas e penosas, mas precisamos tomar cuidado: mais importante do que trabalhar duro é trabalhar de forma inteligente.

3 ativos, sem malabarismo, sem loucura, com todas as estatísticas ao nosso favor.

Sem treta.

Sobre encontrar "a treta mínima necessária"

Essa é uma ponderação-jabá rápida: oferecer soluções simples, extremamente eficientes e que demandam a menor quantidade possível de tempo (ou, seguindo na toada do texto: sem treta) é um dos principais pontos envolvidos na reestruturação dos meus programas de acompanhamento.

É uma abordagem que pode ser aplicada no planejamento financeiro do dia a dia, nos investimentos, na estruturação de modelos de negócio, enfim, é extremamente versátil e eu tenho certeza que pode apoiar muitas pessoas.

Se fizer sentido para você, deixo o convite: a lista de espera para as turmas de abril já está aberta! Venha por aqui→!

Você será muito bem-vindo! ❤️


Nota do autor: Este texto foi originalmente publicado em minha coluna no Valor Investe, projeto do jornal Valor Econômico.

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Heloísa Sanchez